"...só viram os que levantaram para trabalhar no alvorecer que foi surgindo..."

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Este semestre



Este semestre 

Este semestre dediquei-me a ler um pouco . Com a era das redes sociais observei que minhas leituras diminuíram. Para além das leituras superficiais, esquizofrênicas das mídias sociais, a boa e velha leitura nos transporta a outros mundos, alarga horizontes, nos oferece outros pontos de vistas; ou as vezes  reforça alguma experiência nossa e percebemos que não estamos só ou não somos os únicos a sentir, ver de um determinado jeito.

Pois bem, comecei por um livro que havia recebido há uns três anos atrás "Você pode curar sua vida", de Louise L. Hay. Além de relatar trechos de sua vivência, a autora oferece uma série de exercícios para desconstruir padrões de crenças limitantes. É um livro de auto ajuda. Recebi-o no momento em que havia descoberto uma metástase do C. A. de mama. Naquele momento não consegui ler, mas agora o achei útil. Exercícios para a vida toda. Cultivar a autoestima, se sentir merecedora de cura, de bons acontecimentos. Tornar-se “ativa” na sua construção/cura.

É comum durante tratamentos , seja físico ou outros, a pessoa ficar n’ uma posição de passividade, a mercê do destino/ da medicina/ do outro. É importante, ainda que com restrições, que a pessoa possa dialogar, atuar no seu processo de cura.

Depois li a biografia da Rita Lee . Desde que visitei a exposição em São Paulo, me dei conta do quanto suas músicas estavam presentes na minha vida, do quão revolucionária ela foi, de um feminismo exercido sem falácia,  mas com atitude.

Com o livro senti Rita como uma irmã mais velha,"gente como a gente.” Com acertos , erros, dores, amores… humana.

Em seguida li “Enquanto eu respirar " de Ana Michelle Soares.

A primeira vez que vi falar desta jornalista foi em janeiro deste ano , quando a ONG Vencer o câncer publicou a notícia de sua passagem. Fiquei curiosa e fui pesquisar quem era. Encontrei três livros que havia escrito no período de tratamento paliativo do C. A. de mama. Descobri que sua causa foi desbravar o caminho de um tratamento paliativo mais humano e digno. Adquiri logo os três livros “Enquanto eu respirar" , “Vida Inteira” e “Entre a esperança e a lucidez”.

Não é uma leitura direcionada só para pacientes oncológicos, mas também para familiares, profissionais da saúde e pessoas em geral, uma vez que a finitude é inerente a qualquer ser vivo.

Em muitos momentos me identifiquei com a  Ana Mi ( como gostava de ser chamada) , reforcei e ampliei pontos de vista, aprendi outras coisas. Cultivei esperanças!

Por último, li a Outra biografia de Rita Lee, que ela escreveu no período de descoberta e tratamento da sua doença. 

Como lhe é característico, Rita expõe, escancara sua humanidade. O impacto da doença no corpo, na alma, emocional, na família, sem perder “ la ternura”,e o bom humor.

Novamente me identifiquei com alguns procedimentos vividos pela cantora. 

Em todas essas leituras percebi a espiritualidade permeando os acontecimentos, alargando sentidos.

Costumo dizer que aquilo que me faz bem, que entendo que me acrescenta, sinto no “dever” de compartilhar pois, pode fazer bem pra mais alguém.

Entremeando todas essas leituras, continuo com “Cartas de Van Gogh a Theo” e refletindo sobre  a sociedade elitista , superficial,que deixava o artista à margem , não mudou muito de lá pra cá e o mercado de Artes , o reconhecimento,idem!  

Seguimos!

Antes das próximas leituras, pego emprestado os versos de Gonzaguinha…

“Viver e não ter a vergonha de ser feliz

Cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz 

Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será 

Mas não impede que eu repita

É bonita, é bonita e é bonita!”

terça-feira, 2 de maio de 2023

Quem é o culpado?

    Há algum tempo tenho me sentido provocada pela questão “ A culpa do câncer”, e senti vontade de falar , escrever… 
Eis que hoje me dispus a trazer questionamentos,colaborações.      
Pra começar … 
  Em que e a quem irá ajudar enviarmos mensagens dizendo que o câncer é doença de gente rancorosa, magoada, ressentida? Doença de pecador?
   E quem neste planetinha Terra não é pecador, né?!
Talvez estaremos contribuindo ainda mais para a piora de quem está em tratamento.Já pensou nisso?
Toda doença tem a parcela do emocional envolvido, por que essa predileção pelo câncer?
Diabetes, hipertensão, infarto, gota, AVC,hanseníase, vitiligo, doenças mentais e outras… não tem o componente emocional? Só o câncer?
 E quanto ao pecado?
  Vamos lembrar de recém-nascidos, crianças em tratamento oncológico .
Lembremos também dos presídios cheios de gente “ sadia”.
Aí vem a questão religiosa. 
Ah, mais são dívidas dos antepassados ou de outras vidas…
 Vamos nos ater ao hoje .
Você já teve câncer ou conviveu , convive com alguém que passou ou passa pelo câncer?
Você tem elementos que comprove essas mensagens de “autoajuda “, mensagens doutrinantes  de tic toc ou lives de religiosos preconceituosos? Ou que comprovem o que os “doutores”, “terapeutas” de redes sociais dizem tentando VENDER um tratamento, um curso de cura se valendo da fragilidade de outros?
Escuta-se de tudo:
Você está sobrevivendo? ( Não sabem a que custo…)
Ah, seu câncer é mais fraquinho, não é como os outros…
Se morre, não teve fé suficiente, não perdoou ou não se perdoou…
Se segue tratando ,é rico , pois se fosse pobre já teria morrido. 
E assim segue… 
Me faz lembrar a fábula: “O velho, o menino e o burro. “
De todo jeito , a crítica é certa.
A procura pelo culpado segue…
Pois bem! Meu lugar de fala é de alguém que  lida com o câncer desde 1996, inicialmente como Arteterapeuta ( um olhar de fora), assistente, “ telespectadora ”, quando fazia um trabalho voluntário no Albergue Filhinha Nogueira; depois como alguém que conviveu de perto com o câncer,(tratamento da minha mãe )frequentando laboratórios, consultórios, dividindo moradia, cuidando , partilhando emoções, vivência , ainda assim ,“assistente” e por último como alguém que está vivenciando o câncer( desde 2015). São oito anos convivendo com o câncer.
Durante este tempo o meu olhar, o meu entendimento da doença, mudou… 
Primeiro via o câncer como algo terrível, um inimigo invencível , e a pessoa/ paciente uma infeliz vítima do destino ,depois via o/a paciente como um/a guerreira/o capaz de enfrentar esse inimigo cruel,n’uma luta nem sempre ganha; hoje o vejo como uma doença como outra qualquer, e a pessoa/ paciente como uma pessoa  como qualquer outra, com pontos positivos, pontos negativos, com fraquezas e fortalezas ,não é herói, não é algoz e nem vítima , tem bons e maus sentimentos, como qualquer Ser humano. 
As doenças, acidentes, algumas experiências servem -nos como “ despertador” para acordarmos para a finitude da vida , coisa que sabemos desde que nascemos, mas que no dia a dia “esquecemos” , iludimo-nos como seres imortais e vamos protelando nossas necessidades, sonhos, desejos… vamos afastando de nossa essência, ludibriados por uma sociedade doente…consumista, descartável, capitalista.
Hoje vejo o câncer como uma experiência sofrida, mas que me faz uma pessoa melhor, despida de preconceito, de julgamento…mais livre, mais  plena.
Tenho aprendido  muito!
Morrer não é mérito / consequência de paciente oncológico ou de outra doença qualquer.Morrer é condição inerente a todo Ser vivo. 
Já dizia meu pai com sua sabedoria , conhecimento popular , senso comum como dizemos, mas que contém a pura verdade…
“ A única certeza que temos na vida é a morte”; “Todo mundo que tem os pés sobre a Terra, está sujeito a tudo.” “ E a morte precisa de uma desculpa.”
E minha mãe completava: “Este é um planeta de expiação.” Ninguém está aqui por acaso, todos temos desafios, seja na saúde, no setor financeiro ou afetivo. Independente da condição social. 
Condição social que quando avantajada ajuda no tratamento, mas não compra Vida. Fosse assim, milionários não morreriam, nem sofreriam . 
De fato quem tem acesso a medicamentos de ponta, tratamentos modernos têm mais chances de se curar ou amenizar suas dores.Digo então que mais importante que dinheiro é o conhecimento. Conhecimento das opções de tratamento, dos seus direitos ; conhecimento e autonomia para escolher o tratamento que acredita ser o melhor pra si. Conhecimento para desmistificar essa doença, para despir-se de preconceitos, de crenças limitantes. 
E é por isso que venho expressar-me sobre essas questões, que procuro compartilhar informações e falar da minha percepção, de quem está no “ meio do fogo”, de alguém que sente na própria pele, alguém que fala com conhecimento de causa; não para “responder” as demandas dos observadores da vida alheia, mas para me solidarizar e “empoderar”( palavra da moda?!) as pessoas que estão passando pelo tratamento de câncer e que muitas vezes sucumbem aos achismos dos que se consideram acima e no direito de julgar e achar alguma coisa da dor alheia. E também para chamar a reflexão os bem intencionados, piedosos que no ímpeto de querer ajudar, saem repetindo e repercutindo discursos infundados.  Tão simples, tão fácil hoje com a internet, antes de reproduzir , pesquisar, conferir se a informação confere. 
E pra terminar esse longo texto, quero dizer que há oito anos fui diagnosticada com câncer, tratei  meu físico, meu emocional e meu lado espiritual, fiz exame de DNA e constatei ter uma mutação em um determinado gene. Há três anos tenho convivido com um câncer de mama metastático e venho buscando me adequar as novidades e tentando aproveitar ao máximo o meu tempo. 
Quanto tempo tem no tempo que me resta? 
Não sei! Não sei quanto tempo tenho. 
Sei que quero gastar meu tempo com momentos que realmente valham. Gasto meu tempo descobrindo formas , maneiras de amenizar os efeitos colaterais do tratamento , fazendo o bem e vivendo bem.
O câncer é uma doença multifatorial , não tem uma causa, mas várias: genética, alimentação, hábitos de vida, fator emocional, ambiental… por isso a dificuldade de encontrar a cura. Não há um tipo só de câncer e sim vários tipos de cânceres.
Não existe culpados.
Existe mudança de atitude. 
Posso dizer que hoje me alimento melhor, faço atividades físicas regularmente, faço terapia, cuido da espiritualidade, estudo, faço cursos ( não por causa de diplomas ou horas), simplesmente pelo conhecimento, aprender me dá prazer;leio regularmente,  me dou o direito de gastar meu tempo assistindo filmes, séries,viajo muito e trabalho apenas com o que me dá prazer. 
Enfim, apesar dos efeitos colaterais, posso dizer que tenho autonomia e qualidade de vida que não tinha antes do câncer.
Ainda que precise tomar medicação diariamente e ambulatorial mensal, sinto-me curada, verdadeira, humana e plena! 
Grata a vida e a tudo que construí, vivi, vivo!
E sigo  vivendo! E viva lá vida!!!!!

sexta-feira, 10 de junho de 2022


 Ouço Suíte Nº 3 de Johan Sebastian Bach... amo ouví-la !

Como n'um passe de mágica me transporto para um refeitório cheio de mesas, cadeiras ,quadros nas paredes e crianças.

Me entreto com os quadros , a cada imagem uma história. Os quadros remetem ao estilo clássico, neoclássico, rococó talvez...

Mulheres com lindos vestidos ,em suas lindas casas/castelos, cavaleiros montados cortejando as damas .

O lanche era o que menos me interessava, talvez a fome fosse outra...

De lá sigo para uma sala de aula de onde avisto uma piscina olímpica e mais adiante várias oficinas. A que mais me chama atenção é a de marcenaria em que vejo  homens entalhando a madeira, fazendo desenhos esculpidos em móveis... tenho 6 anos...

Todos os dias percorro um caminho da minha casa até a escola, sempre acompanhada  por uma irmã. Do portão da escola até a escola mesmo ,um longo caminho para uma garotinha que começa a descobrir o mundo .

Um caminho com bastante verde ,um gramado bem cuidado ,sempre bem aparado . 

Gosto muito de uma plantinha roxinha que dá uma florzinha cor de rosa miudinha .

Tem também um parquinho que eu adoro ,principalmente o balanço.

 Além das oficinas , quadras de esportes , tem também um anfiteatro onde fazemos apresentações.

 A professora Conceição  nos treinou cantar  para o dia das mães  a música Jesus Alegria dos Homens/Rancho das Flores de Vinícius de Moraes e Toquinho .

Apresentamos também o teatrinho "A linda Rosa Juvenil "e  minha irmã mais velha costurou um vestido longo com barrado e lastex para eu participar.

Vejo também  animais... porcos, galinhas ...mas a esses espaços não podemos ir , apenas os alunos internos .Aqui há alunos internos e os que moram na comunidade, como é o meu caso. Estou na  Escola Municipal Senador Dário Cardoso ,mantida pela FAMA-Fundação de Assistência A Menores Aprendizes,

Ao som de Jesu , Joy Of Man´s Desiring retorno para o momento presente .

Sonho , alucinação?  Parece um local imaginário , não é mesmo ? Mas é real! Foi apenas uma lembrança de onde estudei por quatro anos e onde trago memórias olfativas, visuais ,sonoras e cinestésicas... Desconfio que foi lá que nasceu meu interesse pelas Artes...

Olho minha varanda e avisto meu balanço, vejo também meu vaso com a trapoeraba roxa ou coração roxo ,a plantinha roxa com florzinha cor de rosa... um cheiro bom de grama cortada invade o ar! Hum... cheiro de infância!




quinta-feira, 3 de março de 2022

Mais uma volta em torno do sol !Mais um ano!


 Estes últimos anos pra mim, tem sido um desafio viver, manter-me saudável, não só fisicamente mas emocionalmente e espiritualmente também . Creio que assim tem sido para todas ou quase todas as pessoas. Pandemia, doenças, guerras, perdas, mudanças, aprendizados, ganhos, adaptações...assim segue a vida, num "esquenta e esfria" sem fim!

Desafios nos instigam ,nos provocam , nos impulsionam a sair do lugar comum , a buscar "algo mais", vencer limites , ir além...e isso é bom!

E assim o tempo vai passando...vamos crescendo, amadurecendo e envelhecendo. 

Sabe que tenho gostado de envelhecer?

Meu pai dizia que quem não quisesse envelhecer teria  que morrer, não temos alternativa, é a lei da natureza. 

Mas o bom de envelhecer é que muito da tensão e ansiedade da juventude se esvai...

As estações e seus ritmos...Respeitar o próprio ritmo é um ganho. 

Não ser e nem querer perfeição ,aprender a relativizar e flexibilizar, aceitar nossas limitações e reconhecer nossos  talentos é muito bom! Poderia sintetizar tudo isso em autoconhecimento...Ganhos dos longos anos vividos.

Primeiro a gente começa a perceber que é preciso muito pouco para viver , que aquela correria desenfreada ,trabalho e mais trabalho, cursos e mais cursos ,conquistas e mais conquistas ,já não fazem mais sentido. E saber priorizar ,ter critérios, saber escolher, É TUDO!

Depois, com o discernimento adquirido ,saber diferenciar o que é nosso e o que é do outro (problemas, responsabilidades ,vida...) e assumir somente o que nos cabe, reduz muito o "peso" ou "carga" da vida .

Aprender a dizer NÃO é extremamente necessário e saudável . Impossível agradar a "todo mundo" e já não temos tanto tempo pra perder com o que os outros vão pensar ...é preciso agradar a si mesmo !

Aparência já não tem tanto valor , tudo o que se quer é saúde e disposição para curtir os momentos , a vida.

E sabe de uma coisa? A vida assim se torna tão mais simples, mais objetiva, assertiva!

Hoje me sinto mais a vontade e não tenho nenhuma vontade de "voltar" aos 15,20,30anos...Tenho todas essas idades em mim! Por isso sigo firme neste "projeto" de envelhecer.

Que venha mais anos ,mais rugas, mais vida!