"...só viram os que levantaram para trabalhar no alvorecer que foi surgindo..."

sexta-feira, 21 de agosto de 2009


ESTAS DEFESAS NOS PROTEGEM?
J.A. GAIARSA
Acho que acontece o contrário; defendemo-nos de coisas excelentes, fabricando uma casca protetora, verdadeira couraça..
Todos criamos cascas protetoras, para nos defender dos outros. Bichos cascudos têm pouca mobilidade, e machucam os outros. Uma velha tradição diz que o ser humano faz tudo para ter prazer na vida, e evitar a dor. Verdade?
Normalmente não procuramos demonstrar o amor que sentimos, quando amamos. Amor é ruim? Feio? Dói? Também evitamos o choro, mesmo quando a vontade é grande. Choro é feio? Dói? A mulher e o homem apaixonados se encontram.Tem vontade de pegar um na mão do outro, afagar o cabelo, abraçar, olhar nos olhos, puxar o nariz, brincar de faz de conta, manifestar ternura, contentamento, alegria, felicidade. Mas em geral não fazem nada disso.Tolhem os gestos mais espontâneos e ingênuos, que não são feios nem doem. Dariam prazer?
De fato (e INFELIZMENTE) na hora das coisas boas ficamos cheios de dedos. Não sabemos senti-las, muito menos nos entregar a elas. E usamos desculpas para esconder nossa incapacidade. Dizemos: - Não estava na hora. - Ele não é a pessoa certa. - O lugar não era adequado. - O que iriam pensar? - Não devo, não sou dessas. Verdade que procuramos prazer e evitamos a dor?
Acho que acontece o contrário; defendemo-nos de coisas excelentes, fabricando uma casca protetora, verdadeira couraça. Os psicanalistas a chamam de defesa psicológica ou mecanismo de fuga ou proteção? Toda casca faz do indivíduo um especialista? Ele sempre responde as incertezas do mesmo jeito. Por isso, torna-se muito capaz numa direção, e incapaz na outra.
Alguns exemplos: o desdenhoso sabe desdenhar espetacularmente, mas sua habilidade termina aí. O orgulhoso é especialista em colocar-se acima das coisas, e incapaz de vivê-las. O gozador tem grande capacidade em rir de tudo, porém, não sente nada de importante, já que tudo é risível. O sério julga o mundo sério demais e achata a vida. Não sabe rir.
O displicente não leva nada a sério, então, não há nada que lhe interessa. A ingênua diz com espanto nos olhos que tudo é novo, mesmo acontecimentos velhos de muitos anos. E não se enriquece com acúmulo das experiências. O cobrador vive exigindo que as pessoas cumpram sua obrigação, com isso elimina a possibilidade (e risco) das respostas espontâneas.
O desconfiado está sempre desconfiado e afasta as coisas boas que interpreta como malévola. A eterna vítima é técnica em queixar-se, portanto não se arrisca a viver uma situação agradável. O Don Juan transforma a vida numa caçada à mulher, porém é incapaz de amar alguém.
O falador interminável teoriza sobre tudo e não vive, a vida é um dicionário. Esses são só alguns exemplos de cascas. Pois há tantas....e todas dificultam a vida. Como se fossem óculos escuros, impossibilitando a visão do arco-iris. O cavaleiro medieval, armado de imponente armadura, investe contra o índio nu. Casca e não casca. Quem vai ganhar?
Se for preciso passar por uma ponte estreita (ou seja, por um momento difícil) é quase impossível manter o equilíbrio com a armadura. O índio ganha se surgir um perigo inesperado; como é que o cavaleiro se defenderá? Ele só sabe fazer as coisas de um jeito (é um especialista). O índio ganha. Se acontecer um empurrão (isto é, se as pressões sociais forem muitas), o cavaleiro não resiste e cai. O índio ganha.
Além disso, durante todo o tempo da luta, o encouraçado tem a respiração deficiente. Em conseqüência disso, ele pensa, sente e se mexe mal, pois a casca feita, na verdade, por tensões musculares que prendem, como uma roupa apertada, inibe todas as expansões.
Voltando aos exemplos, como o cavaleiro encouraçado, o desdenhoso, a vítima, o orgulhoso e os outros cascudos, especializados em suas defesas se movem, respiram, se sentem mal, vivem mal. Todo bicho muito cascudo,tartaruga, besouro, morre quando cai de costas. Seria bom aprender esta lição. A casca oprime, limita e sufoca. Nos torna burro em todas as reações que fogem a nossa especialidade. Nos deixa tenso e sem reações de forma que deixamos a vida passar sem ralmente vivê-la, como se passa o tempo.Autor: J.A. Gaiarsa Couraça Muscular do Caráter (Wilhelm Reich) Editora Ágora/ Edição 4 / 1984

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Vida-roda viva


A gente já nasce sabendo que vai morrer.Não se sabe data, nem jeito , mas sabe-se que este dia é fato; chegará para todos.Vivemos como se fôssemos eternos e na maioria das vezes protelamos sonhos, encontros, conversas, mudanças, desejos...
Um diagnóstico negativo desperta-nos para esta realidade, a da finitude;mesmo que só da matéria .E foi assim , no final de 2003 com o diagnóstico de câncer, da minha mãe , muitas reflexões foram suscitadas ; a doença estava nela e consequentemente em nós.
Depois do impacto, do desespero de se ver diante da morte , veio a “com ciência” de que não fazia sentido tanto temor ;todos “doentes” ou não , estamos fadados ao mesmo fim e independente de tal diagnóstico , podíamos e podemos a qualquer hora , dia , chegar ao fim dessa existência;além do que , hoje, diagnóstico de carcinoma não quer dizer morte certa, como muitas outras doenças , aprende-se a conviver com ela.
Bom , com tudo isso me veio uma vontade de “aproveitar “ , desfrutar melhor da companhia das pessoas queridas , de querer estar inteira, presente nos momentos .Assim foi por um bom tempo, e neste tempo quantas coisas aconteceram!!!Os dias passaram e passam , a gente esquece da impermanência das coisas, da roda viva que é a vida.
As doenças , os problemas , as crises , são formas que o nosso sábio organismo usa para chamar atenção de que algo não vai bem , que a harmonia foi desfeita , são maneiras de expressão ; tentativas de se auto- equilibrar ; provocam questionamentos ,convocam a olharmo-nos interiormente e oferecem oportunidades de mudança de visões , de como se vê e vive a vida.
As vezes um lado nosso , diante do veredicto fatal, anima-se a viver intensamente e rapidamente ; outras vezes , se o sofrimento se prolonga , cai-se n’uma tristeza infinda.Os extremos não são legais.Mas o fato é que , de qualquer forma a doença é um “cheque mate” , ou se reformula todas as suas concepções( o que reflete no modus vivendis) , ou sucumbe-se .Essas vivências estão por aí , percorrendo o “tabuleiro”, ora focando a rainha , ora o rei , ora o cavaleiro e assim por diante... a jogada muitas vezes é individual , mas todo o jogo é afetado , o aprendizado é coletivo.Para os espiritualistas a cura , em alguns casos é a morte.
Eu só sei que nesta escola “mundana”, fui , fomos surpreendidos mais uma vez .Mesmo frente a tantas evidências , queríamos crer que tudo ia bem .Então , depois de quase cinco anos e “crendo que estava tudo bem”, intuí que minha mãe estava indo embora, e novamente me dei conta da efemeridade da vida e de quantas coisas não havíamos falado , apesar da convivência diária.Comecei a pensar quais seriam seus sonhos de menina , se achava que os tinha realizado , queria saber de suas angústias de menina , adolescente, mulher.Inventei de pensar se haveria algo que ainda gostaria de realizar, se queria rir à toa , jogar conversa fora...Como n’uma tentativa de recuperar esse tempo não vivido , desconcertada pois, a rotina , a moral , as hierarquias criam em nós barreiras , pus- me a perguntar a minha mãe sobre seus sonhos de menina...mas ela já estava em outro estágio de vida e de dor...triste , sem vibração , não se interessou por tal conversa.Notava –se uma enorme tristeza , mas com tudo isso , ela juntou toda a sua generosidade e pôs –se a agradecer uma por uma as pessoas que lhe acompanhou nesta jornada.GRATIDÃO.Um choro de saudade antecipada, de partir; ao mesmo tempo , a certeza da missão cumprida.Nenhum lamento.Momentos de tristeza e de grande beleza ;como uma Pietá de Michelangelo.Indescritível!!Coube –nos retribuir a altura a dignidade da rainha.
O jogo continua , as peças hoje , ocupam outras funções, a cada dia revendo suas posições.
O desafio é manter o equilíbrio emocional , viver o presente intensamente, com a ciência(consciência) de que a qualquer hora o jogo pode mudar , a roda irá girar!!!

Ivone

segunda-feira, 3 de agosto de 2009



La Forza Della Vita (P. Vallest/Dati)
Anche quando ci buttiamo via,Per rabbia o per vigliaccheria, per un amore inconsolabileAnche quando in casa è il posto più invivibileE piangi e non lo sai che cosa vuoi
Ainda quando "caímos fora"Por raiva ou por covardia, por causa de um amor inconsolávelAinda quando a casa é o lugar mais inabitávelE choras e não sabes o que queresAcredite que há uma força em nós, meu amorMais forte do que um relâmpago,do que este mundo irracional e inútilMais forte que uma morte incompreensívelE do que esta nostalgia que não nos larga mais
Credi c'è una forza in noi amore mio,Più forte dello scintillio, di questo mondo pazzo e inutileÈ più forte di una morte incomprensibilieE di questa nostalgia che non ci lascia mai.
Quando tocares lá no fundoDe repente sentiras a força da vida que trazes contigo,Amor não sabes, verás, existe uma saída
Quando toccherai il fondo con le ditaA un tratto sentirai la forza della vita, che ti trascinerà con se,Amore non lo sai, vedrai una via d'uscita c'è.
Ainda quando comes com dorE no silencio sentes o coração,como um rumor insuportávelE não queres mais levantares,O mundo está inatingívelE ainda que a esperança já não seja suficiente
Anche quando mangi per doloreE nel silenzio senti il cuore, come un rumore insopportabileE non vuoi più alzarti e il mondo è irraggiungibileE anche quando la speranza oramai non basterà.
Existe uma vontade que esta morte desafiaÉ a nossa dignidade, a força dessa vidaQue não pergunta mais o que é a eternidadeAinda que haja quem a ofenda ou que a venda
C'è una volontà che questa morte sfidaÈ la nostra dignità la forza della vitaChe non si chiede mai cos'è l'eternitàAnche se c'è chi la offende o chi la vende l'aldilà.
Quando sentiras que segura em teus dedosA reconhecerás, a força da vida que trazes contido,Não deixes ir embora mais, não me deixes sem vocêAinda dentro das prisões da nossa hipocrisiaAinda no fundo do hospital nessa nova doença
Quando sentirai che afferra le tue ditaLa riconoscerai la forza della vita, che ti trascinerà con se,non lasciarti andare mai, non lasciarmi senza te.
Existe uma força que te guarda e que reconhecerásÉ a força mais teimosa que existe em nós que sonha e não entrega mas
Anche dentro alle prigioni della nostra ipocrisiaAnche in fondo agli ospedali nella nuova malattiaC'è una forza che ti guarda e che riconosceraiÈ la forza più testarda che c'è in noiChe sogna e non si arrende mai
É a vontade, mais frágil e infinita, a nossa dignidade (meu amor) é a força da vidaQue não pergunta mais o que é a eternidade, mas que luta todos os dias conosco até não ter fim
È la volontà, più fragile e infinita, la nostra dignità{Amore mio} è la forza della vita
Quando sentiras (a força dentro de nós)Che seguras em teus dedos (meu amor antes ou depois)A reconhecerás (a sentirás)A força da vidaQue trazes contigo, que sussurra no seu interior:"Veja quanta vida ainda existe!"
Che non si chiede mai, cos'è l'eternitàMa che lotta tutti i giorni insieme a noi, finchè non finirà
Quando sentirai {La forza è dentro noi}Che afferra le tue ditta {Amore mio prima o poi}la riconoscerai , {La sentirai}La forza della vita
Che ti trascinerà con se, che sussurra intenerita:"guarda ancora quanta vita c'è!"