E então... É Natal!
E por falar
em Natal...
Sempre fui
muito imaginativa, mas não tenho em minhas memórias cenas de neve, Papai Noel
ou coisa assim...estes eram personagens que via nos filmes e desenhos animados.
Meu pai e
minha mãe ,católicos que eram , não alimentavam esta fantasia,ao
contrário,enfatizavam muito o nascimento do Cristo e era exigência certa, a
presença na missa do galo .
Tenho fotos
do tempo de criança em frente ao presépio e sempre me encantei com as
representações do nascimento do menino Jesus,as caracterizações com aguinha
correndo,monjolos e tantos detalhes reproduzindo este momento tão importante
para os cristãos.
E era tão
importante que nos preparávamos para ele; era o evento do ano.Minha mãe comprava
tecidos nas lojas Bi Ba Bô e minha irmã mais velha costurava as roupas novas
que vestiríamos no Natal;lembro dos vestidos longos , com barrados de bichinhos
infantis...Eu achava o máximo!
Natal era também dia de calçados novos e minha
mãe nos levava até a Estrela D’Alva Calçados ,na av.: Bernardo Sayão (nosso shopping), para
comprarmos nossos sapatos,tudo devidamente dentro do poder de compra deles.Era
uma felicidade só!!!!
De
brinquedos , presentes , só me lembro quando já era maiorzinha ;quando meu pai
ao fazer compras para o Bazar (comércio /sustento da família), incentivado pelo
vendedor Adelson, deixou que eu e minha irmã escolhêssemos um presente; eu
escolhi uma boneca, minha irmã escolheu um pianinho,que segundo
Adelson,teríamos que sentar na banqueta para tocá-lo e todos poderiam tocar
porque era grande.De fato o piano fez sucesso,embora grande parte dos
argumentos do Adelson fosse puro exagero;minha boneca não era tão grande como
imaginara , nem tão cheia de atributos ditos pelo vendedor, mas chorava todas
as vezes que eu a colocava de cabeça para baixo e tinha longas madeixas; o que
fez minha alegria por muito tempo.
Lembro –me
que sempre chovia ,assim, como essa chuva de hoje,chuva de verão, passageira...e
então , devidamente trajados , minha mãe pegava a sombrinha e saíamos para
fazermos visitas, a pé , ou de ônibus,quando a visita era mais distante. Recordo
de algumas visitas em casas de parentes dos cunhados Ari e Francisco.
Antigamente ,bem... “nem tão antigamente
assim...”, tínhamos o hábito de fazer visitas , conversar com as pessoas ;os
presentes eram as PRESENÇAS...talvez , inconscientemente,uma alusão aos Reis
Magos que visitaram Jesus.
Dessa
capacidade de comunicação,conexão e simplicidade da minha mãe, tenho muitas
saudades e boas recordações...
O amigo
secreto não se limitava a família nuclear, abarcava uma família maior, os
vizinhos , e lembrar desses momentos nos
remete a boas gargalhadas...
Com o crescimento da família nuclear ,
a chegada dos netos dos meus pais, as ceias de Natal e o amigo secreto ficaram
entre nós...uma farra divertida , olhando as expectativas,frustrações e
satisfações com a revelação.
Bem ,
nenhuma dessas recordações me remete a loucura que é esta data hoje , ruas e lojas
tumultuadas , consumo abusivo, uma insanidade...
como se os presentes pudessem preencher as faltas, os vazios
de PRESENÇA;como se os produtos comprados pudessem suprir carências de acolhimento,
aconchego, afeto,paz.
Procuro me
abster de fazer parte dessa loucura coletiva , o que não é fácil , e com sentimentos da
infância , sentir o silêncio , a paz e a grandeza que um nascimento provoca , a
magnitude da vida que “dribla” as intempéries e teima em continuar...
Tento
encharcar-me nessa chuva de sentidos , nessa herança simbólica de meus pais
para ter a esperança e esperar novas
alegrias !E confiar no futuro que virá.Pois...
“Emanuel-Deus
está conosco.!!!” É Nata!
Ivone T. Cunha