"...só viram os que levantaram para trabalhar no alvorecer que foi surgindo..."

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Histórias cotidianas...

(Picasso)
Foi em um ato de desespero que Ana saiu de seu lugar. Saiu sem destino , sem rumo ; ganhou as ruas da cidade.
Seu peito parecia que ia explodir ; sua cabeça comprimida de tanto pensar.Não conseguia se conter .Seu frágil Ser não suportava mais tanta carga, tanta pressão .
Num ímpeto de livrar – se de tudo aquilo e de si mesma , pôs –se a vagar.
Nesse andar desarvorado , viu um lugar bonito , verde ; parou em frente. Em meio ao centro esquizofrênico da cidade , onde carros e pessoas passavam irracionalmente, um recanto de paz; um oásis de resistência a esse mundo acelerado , lembrando a verdadeira natureza do ser humano . O canto dos pássaros em meio a tudo isso , como que chamava Ana a se harmonizar , e ela sentiu – se atraída por aquele lugar . Avistou dentro dele um prédio branco , despojado , pessoas aparentemente felizes , crianças brincando ao redor. Ana não se deu conta de que se tratava de uma escola de Artes, entrou.
Ela não conseguia pensar , só sentia...
Sentia um tremendo mal estar. Chegou até a recepção , não perguntou por aulas de teatro , música , artes , nem de dança ; como era esperado por quem estava lá.
Já fora de si, como em um pedido de socorro , Ana disse:
_Eu estou cansada desta vida!
_Eu estou cansada de morar debaixo da ponte!
_Eu quero voltar para Paraúna! Lá eu tenho casa, eu...
Ana petrificou – se , congelou –se . Sua dor era tamanha que a imobilizou.
As pessoas assustadas e amedrontadas , também ficaram paralizadas , tentando se proteger .
Ana parecia uma estátua.
Um silêncio , um vácuo se instalou...
Minutos passaram imperceptíveis , até que um burburinho começou a agitar o ambiente. As pessoas perguntavam – se:
_Quem é esta louca?
_Mais uma?!
_Esse lugar parece que atrai!
_Que é isso?
O pequeno alvoroço quedou –se quando se ouviu um estampido , um grito doído , talvez de indignação pela impassividade das pessoas , pela dor – mência coletiva.
_ Injustiça ! Injustiça ! Como esse mundo é injusto!!!!
E Ana sumiu correndo pelas ruas a fora.
Ivone

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