"...só viram os que levantaram para trabalhar no alvorecer que foi surgindo..."

segunda-feira, 12 de outubro de 2009


Li e indico .Um livro que encanta...
Para "tomar um gostinho" do livro , vejam abaixo esta resenha feita por Maria Helena Sleutjes.
O ROMANCE DE MARIA MADALENA - Jean-Yves Leloup
Mesclando filosofia, história, teologia, ficção e muita poesia, Jean-Yves Leloup discorre neste livro, de forma extraordinária sobre o arquétipo feminino. Utilizando a figura enigmática e provocante de Maria Madalena (a “pecadora” que acompanhava Jesus, segundo a tradição cristã) e com base nas recentes descobertas dos evangelhos desenterrados em Nag Hammadi, o autor mergulha com rara beleza e sensibilidade, nos meandros mais delicados, mais fortes, mais inexplicáveis, mais dolorosos, mais doces e mais sagrados da alma da mulher de ontem, da mulher de hoje, da mulher de sempre.A história se inicia através da contemplação na atualidade de um quadro onde se encontram as figuras de Maria Madalena e Jesus num Museu de Arte Bizantina, exatamente com a exclamação: “Este homem e esta mulher se amaram.” Este quadro, transformado em ícone para que a figura de uma jovem de 20 anos se mescle à figura de Maria Madalena, dá substância as idéias de Leloup, e vai permitir ao leitor viajar por uma outra história, igualmente salvadora, do poder acreditar que o Amor entre um homem e uma mulher, seja realmente possível.Nos primeiros capítulos, Leloup descreve a formação de Maria Madalena, seu conhecimento mais abrangente da vida, seu amor pelos estudos, sua aproximação da cultura egípcia e grega e sobretudo, seus questionamentos sobre os costumes e padrões vigentes, evidentes nestas falas: “– Não há outra realidade, além da realidade, mas será que a conhecemos melhor através dos sonhos ou da razão?... Será que ela se revela através do prazer ou da obrigação?...Consolo e prazer poderiam vir de outra pessoa ou de mim mesma?” Desnudando os sentimentos femininos de solidão através da voz de Sara, criada de Maria Madalena mas também sua instrutora, acrescenta: “Se lhe faltar a imaginação, você jamais verá corpos que cintilam, a luz azul que banha seu leito, o grande sorriso que transborda de seus olhos. Você jamais verá almas que se encontram... O amor assim como a grande realidade, não existe, cabe a você cria-lo. A vida não tem sentido, cabe a você dar-lhe um. Estamos na terra para isto, amamo-nos para que a vida não seja absurda e para que a morte não tenha a última palavra.”Ainda no início do livro, Leloup nos brinda com a prece de Maria Madalena, uma prece que é pura poesia e que ela teria supostamente escrito para se defender dos deuses acusadores que fazem os homens nascerem velhos e culpados de todos os horrores do mundo:
“Meu Deus, tu és o Deus da primavera,O que faz florescer, o que faz crescer.
Será que é mesmo necessário que sejamos “pequeninos”Para que tu sejas todo-poderoso?“Pobres pecadores”, para que tu sejas misericórdia?
Não é suficiente que estejamos nus, para que tu brilhes,
Que estejamos vazios, para que tu sejas tudo?
Tu não és um Deus que desconfia das mulheres,
Que canoniza os santos e queima as feiticeiras.
Tu és belo e amas a beleza
Eu orei a ti, com freqüência, Meu DeusPara que me livrasses dos deuses que acusamQue desprezam e fanatizam...
E tu me enviaste a primavera: a amendoeira Floresceu.
Respirei o grande dia e a grande noite,Reconheci teu sopro no jardim,
Tua brisa à beira do lago.Tu me ensinaste que rezar mais
É respirar melhor.Ainda não sei se és o Deus dos amantes,
Se fores aquele que ama em todos os que amam........
.....Amo-te sem te ver, sem te tocar
E, no entanto, sei que me deste
Olhos para ver e braços para abraçar.
Um dia talvez, em cores oceânicas,
Um homem virá
Para te dar um semblante
E abençoar a terra na oferenda de meu corpo;
Então, eu te amarei, meu Deus
Como as mulheres amam,
Como as crianças,
Como a tempestade
E nos tornaremos Um.”
Aprofundando constantemente os questionamentos em Maria Madalena, Leloup leva-a a perguntar se existe homem inteligente e belo pois os homens que ela encontrava seriam uma coisa ou outra...apaixonados imbecis ou inteligentes gelados e acrescentando diz: “estremeço mais de vergonha que de prazer” e ainda, ela se perguntaria: “- Quem colocou em mim este desejo lacerante de núpcias impossíveis?”.Contemplando a questão do pecado ou a possessão da alma de Maria Madalena por sete demônios, Leloup afirma que existem sim, sete impedimentos à consciência e ao Amor, sete maneiras de gelar o sangue, de conter seus gestos, seu olhar, suas palavras, para não mais dar e, continuamente, desesperadamente, obstinar-se em apoderar, em reter o que se deve deixar escapar e abandonar.Com a segurança que lhe é peculiar, Leloup demonstra que é necessário fazermos o inventário de nossos demônios, conhecer melhor o que nos aliena e nos possui, para melhor apreciar e agradecer o que nos liberta. Assim, Maria Madalena, burilando ainda mais o entendimento de si mesma, diz: “Nossa vida vale unicamente pelo olhar através do qual nos vemos... Liberdade... mas, para fazer exatamente o quê?” Maria Madalena nas palavras de Leloup, desejava se manter livre para o estudo, para o conhecimento e o esposo que ela buscava era o Logos – a informação criadora e assim o autor conseguindo olhar através das frestas de luz da alma feminina declara saber que secretamente esta mulher deseja uma inteligência que tenha um semblante, um corpo a quem ela pudesse realmente abraçar como a um homem...numa verdadeira aliança entre os sopros e os sonhos.Descrevendo o encontro de Maria Madalena e Jesus, Leloup fala de um sublime encantamento que não se explica , onde a verdade de um passa a ser o semblante do outro, um semblante que não se pode ter, não se pode possuir, pode-se unicamente entregar-se a sua doçura e a exigência do seu olhar.Para melhor demonstrar suas idéias acerca do Amor, Leloup coloca nas palavras que Jesus dirige à Maria Madalena, significados que afirmam que a única coisa necessária ao ser humano é que este aprenda a fazer o que fizer com Amor, e diz: “tudo o que fazemos sem Amor é tempo perdido, tudo o que fazemos com Amor, é eternidade encontrada” ou então, “Amar não é projetar-se no outro...Amar é deixar ser”. Continuando Leloup afirma que o amor é a morte da morte, aquilo que a compreende e supera e por fim, que o amor humano também pode ser um amor maior: “ - O que resta de um homem quando ele matou, em si, a alma do amor?...”. E para concluir,Leloup afirma através deste romance que não existe ausência no amor – “o ausente não está no horizonte nem em seus sonhos, ele cola em sua pele” e assim pergunta: “ - Conhecemos o ser amado pela ”psique“ ou pela ”pneuma“? E conclui, que conhecemos o ser amado pela soma do encontro (o nós), exatamente através da capacidade de perceber pois não podemos ser mobilizados apenas por aquilo que conseguimos ver mas pelo que percebemos e pelo que percebemos com o coração”.- Seria o bem amado um homem, um deus, um ideal ou uma quimera?
Maria Helena Sleutjes

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