"...só viram os que levantaram para trabalhar no alvorecer que foi surgindo..."

sábado, 4 de setembro de 2010

Construí para mim um santuário


Enfeitei- o com flores e sonhos

Acendi incensos , coloquei boa música, meditei

Tudo estava bonito

Estava feliz e alegre

Quis compartilhá-lo com mais alguém

Abri portas e janelas

Um lobo disfarçado de ovelha

No meu santuário adentrou

Aos poucos , com jeitinho , perspicácia foi invadindo o espaço

Ele era tão dócil ,afetuoso que o acolhi

Parecia tão frágil , só , apaixonado pela vida

E fui deixando – o se instalar

O tempo foi passando, quando percebi a ovelha/lobo estava apossando também da minha alma

A paz havia se dissipado

Olhei –me e vi-me com um punhal no peito

Uma cisão havia sido feita

O sangue jorrando corpo afora

A dor ecoando pelos poros

Um vazio se instalara no meu ser

Meus sonhos e flores despedaçados ao chão

O bom cheiro foi substituído por cheiro de morte

A bondosa ovelha se revelou um lobo duro e frio

Num impulso de sobrevivência expulsei –o do meu santuário

Comecei a fazer uma limpeza

E nessa assepsia pedaços de mim se foram

Feridas abertas ainda sangram

Quando se pensa que elas estão se fechando , brotam novas impurezas e tudo redói

Onde foi parar a minha alegria?

Externamente o santuário está restabelecido

Mas no seu interior ainda ressoa a falta de amor de um lobo desalmado.
(Maria Rita Albuquerque)

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