"...só viram os que levantaram para trabalhar no alvorecer que foi surgindo..."

domingo, 24 de maio de 2009

Um lugar sem igual!!!!!!!Especial!!


O ônibus passa levantando o poeirão , as galinhas saem correndo da rua ; crianças andam à cavalo ou brincam com os pés descalços.
Pela janela do ônibus vejo uma bela paisagem surgir ...Nada de luxo , de modernidade ou conforto , apenas simplicidade.O conforto vem da sensação do relógio ter parado no tempo e de se ter todo o tempo do mundo . A beleza natural do lugar se completa com a simpatia do povo que o habita. Todos se conhecem ...O ônibus continua passando pela estrada e os acenos são constantes :
_Oi José!
_Bom dia Mané !
_E a Joana?
_Tá bem...
Pára aqui , pára acolá e logo vai se esvaziando; uns descem com compras feitas na cidade , outros descem com crianças ...desce também um padre com hábitos antigos.
Fico admirada ao saber , em conversa com um dos moradores , que o mesmo não conhece o povoado vizinho;admirada do contentamento , da satisfação do mesmo com o que se tem , sem desejar nada além de suas necessidades.
Chega a minha vez de descer , logo adentro uma casa modesta , com um belo fogão a lenha a aquecer o ambiente ...sinto um aroma de boa comida , comida mineira , feita com zelo.O encanto continua no arranjo das coisas da casa, tachos de cobres pendurados , um coador antigo de café , o bule esmaltado , as miniaturas de vasilhas e pratos decorados que enfeitam as paredes ; no porte elegante de um velho caboclo de olhos claros , jeito matuto de falar , paciência para lidar com os que o cercam... Os santos , oratórios , estão por todos os cantos .
Sinto uma pequena e boa inveja deste povo que vive e que o viver lhes basta; ao mesmo tempo é como se já tivesse vivido assim , como se minha memória arquetípica fosse despertada dando – me a impressão de que tudo aquilo me era por demais familiar, era como se pudesse vivenciar um pouquinho da vida dos meus pais e avós.
Mais tarde veio o forró em um descampado, fogueiras acesas , barraca com caldos ,,, quentão ; a música “tecnologizada” já chegara naquele lugarzinho no meio do nada, mas ... a cena de moços , moças e crianças dançando , parecia pertencer ao passado , parecia uma pintura .Lembrei – me do Volpi em suas incursões pelo interior do Brasil, de suas bandeirinhas e tantos outros que tentaram eternizar momentos como este...
No dia seguinte , bem cedo , prazeroso foi abrir as janelas , sentir o ar puro e mesmo com uma leve chuva fora de época , sair andando pelo povoado com uma sombrinha , cumprimentando todos como se fossemos velhos conhecidos , recebendo convites para o café...
Simpáticas e simplórias como as pessoas , eram também as igrejinhas do lugar .
Lembrei – me das histórias do mineiro Ruben Alves , de suas recordações ; fiquei pensando também como Guimarães Rosa retrata tão bem o sertanejo e deliciei-me com Milho Verde , distrito de Serro , que fica na serra do Espinhaço, dentro do Vale do Jequetinhonha... Beleza ímpar , lugar encantado , oásis em um “deserto” de modernidade capitalista.



Ivone T. Cunha

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Atritos

ATRITOS
(Roberto Crema )
Ninguém muda ninguém;ninguém muda sozinho;nós mudamos nos encontros.Simples, mas profundo, preciso.É nos relacionamentos que nos transformamos.Somos transformados a partir dos encontros,desde que estejamos abertos e livres para sermos impactados pela idéia e sentimento do outro.Você já viu a diferença que há entre as pedras que estão na nascente de um rio,e as pedras que estão em sua foz?As pedras na nascente são toscas,pontiagudas, cheias de arestas.À medida que elas vão sendo carregadas pelo rio sofrendo a ação da água e se atritando com as outras pedras,ao longo de muitos anos,elas vão sendo polidas, desbastadas.Assim também agem nossos contatos humanos.Sem eles, a vida seria monótona, árida.A observação mais importante é constatar que não existem sentimentos, bons ou ruins,sem a existência do outro, sem o seu contato.Passar pela vida sem se permitir um relacionamento próximo com o outro,é não crescer, não evoluir, não se transformar. É começar e terminar a existência com uma forma tosca, pontiaguda, amorfa.Quando olho para trás,vejo que hoje carrego em meu ser várias marcas de pessoas extremamente importantes. Pessoas que, no contato com elas,me permitiram ir dando forma ao que sou,eliminando arestas,transformando-me em alguém melhor,mais suave, mais harmônico, mais integrado.Outras, sem dúvidas,com suas ações e palavras me criaram novas arestas,que precisaram ser desbastadas Faz parte...Reveses momentâneos servem para o crescimento.A isso chamamos experiência.Penso que existe algo mais profundo,ainda nessa análise.Começamos a jornada da vida como grandes pedras,cheia de excessos. Os seres de grande valor,percebem que ao final da vida,foram perdendo todos os excessos que formavam suas arestas,se aproximando cada vez mais de sua essência,e ficando cada vez menores, menores, menores... Quando finalmente aceitamos que somos pequenos, ínfimos,dada a compreensão da existência e importância do outro,e principalmente da grandeza de Deus,é que finalmente nos tornamos grandes em valor. Já viu o tamanho do diamante polido, lapidado?Sabemos quanto se tirad e excesso para chegar ao seu âmago. É lá que está o verdadeiro valor...Pois, Deus fez a cada um de nós com um âmago bem forte e muito parecido com o diamante bruto,constituído de muitos elementos,mas essencialmente de amor.Deus deu a cada um de nós essa capacidade,a de amar...Mas temos que aprender como. Para chegarmos a esse âmago,temos que nos permitir,através dos relacionamentos,ir desbastando todos os excessos que nos impedem de usá-lo,de fazê-lo brilhar Por muito tempo em minha vida acreditei que amar significava evitar sentimentos ruins.Não entendia que ferir e ser ferido,ter e provocar raiva,ignorar e ser ignorado faz parte da construção do aprendizado do amor. Não compreendia que se aprende a amar sentindo todos esses sentimentos contraditórios e...os superando.Ora, esse sentimentos simplesmente não ocorrem se não houver envolvimento... E envolvimento gera atrito.Minha palavra final: ATRITE-SE!Não existe outra forma de descobrir o amor.E sem ele a vida não tem significado.

domingo, 3 de maio de 2009

Mãe Superação


Receber a missão de colocar nove filhos no mundo, sendo um deficiente, não é para qualquer uma!!! E como se fosse pouco ainda terminar a missão da sogra e cuidar do cunhado até a morte!!!
Dá pra imaginar aquela menina de pés descalços, roupas surradas, sem um referencial de mãe,pois ficou órfã aos dois anos; criando , educando e transformando esses filhos e filhas em educadores? Construtores de um mundo melhor e possível?

A menina mineira de Bom Despacho, que guardou carinhosas recordações do pai, logo que o mesmo se casou pela segunda vez , foi para a companhia dos irmãos e veio para Goiás . Aqui morou com irmãos, trabalhou em diversas casas até que, adolescente, conheceu e casou-se com o seu esposo Marcolino; deu-se então início a essa difícil e honrosa missão de MÃE !
Minha Mãe dizia que sempre pedia auxílio a Nossa Senhora para educar @s filh@s todas as vezes que não sabia como agir.

Com a sogra aprendeu muitas coisas, entre elas, benzer. Foi com grande fé, intuição, amor, carinho, humildade, simplicidade e astúcia, que ela foi superando a orfandade, a pobreza, a falta de instrução, o preconceito, a dor...

Na sua caminhada costurou , bordou, benzeu, furou orelhas , fez remédios caseiros, cortou cabelos , fez doces, biscoitos , limpou peixes , vendeu... E não parou; com sua sabedoria popular, se fez, construiu sua vida e colaborou efetivamente para o projeto de CRISTO. Cuidou da VIDA, AMOU a si e o próximo, transformou a realidade, foi empreendedora ao seu modo...

Ainda nos seus últimos dias de vida, acamada, preocupava se todos estavam sendo bem recebidos, se estavam se alimentando...

Há quatro anos atrás lutou bravamente contra um câncer de mama e superou mais um desafio da vida. A doença silenciosa e traiçoeira, sorrateiramente driblou–a se alojando em outra parte do corpo, esquivou–se covardemente de aparecer nos exames, sabia de seu amor pela vida, de seu cuidado com a saúde e que, se aparecesse, a guerreira se postaria a derrotá-la novamente...ainda assim , sem saber da existência de tão bravo inimigo, a MÃE superação lutou dignamente, bravamente , serenamente...

Com ar de missão cumprida, com orgulho do legado que deixou para a humanidade, filhos amorosos, com princípios e seu amado companheiro, que continuarão a sua HISTÓRIA e a construção do Reino de Deus, ela partiu ...

A Mãe Águia, Mãe Flor, Mãe Passarinho... se encantou ! Virou estrela! Seu brilho, sua força permanecem!
Fica a ausência, a falta do toque, do abraço, do beijo, da doçura, da companhia, do amor incondicional...
Fica a saudade do café, dos saborosos doces (de figo, mamão...), dos biscoitos...
Mãe fundamental, obrigada!!!!!!!!!

Texto: Ivone da Cunha Teixeira – 18/08/08