"...só viram os que levantaram para trabalhar no alvorecer que foi surgindo..."

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Uma nova relação entre homens e mulheres



Em 2003 comecei a trabalhar em um programa de rádio que propõe uma nova relação entre homens e mulheres ,desde então atuo divulgando direitos, cobrando atitudes,abordando assuntos que proporcione o bem viver de mulheres e  homens;mas nunca achei que deveria  me intitular feminista  por falta de uma atuação mais direta,incisiva.

Correto seria dizer que sou fruto e vivo as conquistas das feministas.
E sou grata a elas!
Como toda  criança ,quando pequena, vivia em um mundo de fantasias,mas mesmo  cheia de imaginação, não deixei de ser influenciada pelos acontecimentos da época. Adorava brincar de bonecas; de bonecas, não de cozinhadinha ,rs...
Nunca  fui chegada à cozinha ...
Nas minhas brincadeiras de casinha, minhas bonecas se casavam e desquitavam quando não estavam satisfeitas...
Desquite era a novidade da época ,o escândalo da vez.
Não tinha Barbie e nem Ken, Suzie era a boneca da hora ,mas eu não tinha a Suzie ,tinha outras mais simples . Quem fazia o papel de marido era um velho coelhinho de plástico..aha hahaha...
Tive um pai provedor e que reproduziu muito  a cultura machista ,(não conhecia outro modelo) e uma mãe que mesmo dentro dessa cultura ,trabalhou ao lado dele e se legitimou como mãe, mulher de ação, autoridade respeitada;um não invalidava a palavra do outro.
Ambos enfatizavam para nós ,filhas mulheres, a necessidade de estudar,ter profissão e não depender de marido, nem de ninguém.
 Eu não gostava de ver mulheres  passando por situações constrangedoras com seus cônjuges e mesmo sem expressar verbalmente ,pensava que não queria aquele tipo de relacionamento pra mim.
A entrada de uma nova mulher que se casa com um moço da família,traz para a nossa realidade uma outra forma de viver e de ser mulher .
Era uma mulher que trabalhava fora, dirigia carro, independente,não morava com os pais, que namorava,sabia o que queria, se mantinha...
Isso em Goiás, em 1974,  era raro, rs...
Hum...desejos foram acesos,sonhos despertados... E...
Os amigos das minhas irmãs cantavam pra elas...  “Toda donzela tem um pai que é uma fera”...
As mudanças vieram.
Apesar de  garota,adolescente  romântica ,sonhadora,”menininha do papai” ...verdade  é que eu sempre trouxe ,talvez bem escondido, um grande par de asas e um desejo imenso de levantar vôos...não era de peitar mudanças ,mas pegava carona nas conquistas.
O tempo passou ,as conquistas foram avançando, o contexto mudando...
E olha onde fui parar , em um programa de gênero...

Minha mãe,  não há muito tempo,quando  uma senhora se referiu a mim vislumbrando um casamento com o filho dela (meu namorado na época), falou “com boca cheia”: “Minha filha só casa se  quiser,é estudada,trabalha,não depende de senhor ninguém, dirige,viaja pra onde quer ,conhece quase todo o país.”
 Pra minha mãe, ter filhas assim era um orgulho;pra uma mulher que viveu o que ela viveu,uma conquista indescritível!
Atualmente ,penso que as relações homem /mulher estão cada vez mais complexas...
“Novas”mulheres implicam em  “novos” homens! Novos “modelos” de relacionamento.
E dizem por aí que muitos homens estão perdidos,sem saber seu papel nesta nova configuração...outros assustados...outros curtindo ...e muitos ,muitos,ainda reproduzindo a cultura machista...cometendo atrocidades com a crença de donos,proprietários de mulheres...
E assim temos tanto o que caminhar...
E as mulheres?
Hoje somos,em nossa grande maioria, mulheres provedoras, desejosas de direitos e sabedoras das nossas responsabilidades.
Poucas,mas significativas, ocupando cargos de poder e decisão.
Somos maioria nas universidades.
Muitas sobrecarregadas com a ausência ou omissão dos companheiros.
Há jovens feministas engajadas.
Há algumas que conseguiram afinar o discurso com seus companheiros e estão construindo um novo modo de viver.
Mas há aquelas que ainda  vivem submissas e oprimidas.
Há ainda uma parcela de jovens garotas  que talvez não tenham se conscientizado da batalha de tantas mulheres no decorrer da história e que parecem sofrer de uma nostalgia tardia , agem cobrando de seus parceiros o papel de provedor,salvador,herói e os vêem como algoz quando estes não correspondem as suas expectativas.Muitas agem como dondocas, bonecas de luxo;isentando –se da co-responsabilidade na relação homem /mulher, se vitimizando e jogando pra cima dos companheiros toda a responsabilidade de fazerem –nas felizes.
Tenho ouvido homens contando as tiranias que vivem em suas relações, a pressão para corresponderem ao papel de provedor, a culpa por não conseguirem corresponder... Será o machismo as avessas?Rs...
É,meu amigo,minha amiga, a via é de mão dupla!
São movimentos interessantes...e várias realidades coexistindo...
E penso que a proposta do nosso programa ,mesmo diante de tantas mudanças de comportamento, continua atual ... se faz necessário uma nova relação entre homens e mulheres ,onde não haja concorrência; que não seja patriarcado ,nem matriarcado;mas uma relação pautada na co- responsabilidade,na cooperação, no companheirismo ; uma relação de pessoas completas que se vejam e se sintam iguais...

Enquanto trilhamos “o caminho das pedras”,almejando o caminho das flores , que não percamos de vista o maior bem que conquistamos e podemos ter...
LIBERDADE... de ir e vir , de ser...MULHER...