"...só viram os que levantaram para trabalhar no alvorecer que foi surgindo..."

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Vida-roda viva


A gente já nasce sabendo que vai morrer.Não se sabe data, nem jeito , mas sabe-se que este dia é fato; chegará para todos.Vivemos como se fôssemos eternos e na maioria das vezes protelamos sonhos, encontros, conversas, mudanças, desejos...
Um diagnóstico negativo desperta-nos para esta realidade, a da finitude;mesmo que só da matéria .E foi assim , no final de 2003 com o diagnóstico de câncer, da minha mãe , muitas reflexões foram suscitadas ; a doença estava nela e consequentemente em nós.
Depois do impacto, do desespero de se ver diante da morte , veio a “com ciência” de que não fazia sentido tanto temor ;todos “doentes” ou não , estamos fadados ao mesmo fim e independente de tal diagnóstico , podíamos e podemos a qualquer hora , dia , chegar ao fim dessa existência;além do que , hoje, diagnóstico de carcinoma não quer dizer morte certa, como muitas outras doenças , aprende-se a conviver com ela.
Bom , com tudo isso me veio uma vontade de “aproveitar “ , desfrutar melhor da companhia das pessoas queridas , de querer estar inteira, presente nos momentos .Assim foi por um bom tempo, e neste tempo quantas coisas aconteceram!!!Os dias passaram e passam , a gente esquece da impermanência das coisas, da roda viva que é a vida.
As doenças , os problemas , as crises , são formas que o nosso sábio organismo usa para chamar atenção de que algo não vai bem , que a harmonia foi desfeita , são maneiras de expressão ; tentativas de se auto- equilibrar ; provocam questionamentos ,convocam a olharmo-nos interiormente e oferecem oportunidades de mudança de visões , de como se vê e vive a vida.
As vezes um lado nosso , diante do veredicto fatal, anima-se a viver intensamente e rapidamente ; outras vezes , se o sofrimento se prolonga , cai-se n’uma tristeza infinda.Os extremos não são legais.Mas o fato é que , de qualquer forma a doença é um “cheque mate” , ou se reformula todas as suas concepções( o que reflete no modus vivendis) , ou sucumbe-se .Essas vivências estão por aí , percorrendo o “tabuleiro”, ora focando a rainha , ora o rei , ora o cavaleiro e assim por diante... a jogada muitas vezes é individual , mas todo o jogo é afetado , o aprendizado é coletivo.Para os espiritualistas a cura , em alguns casos é a morte.
Eu só sei que nesta escola “mundana”, fui , fomos surpreendidos mais uma vez .Mesmo frente a tantas evidências , queríamos crer que tudo ia bem .Então , depois de quase cinco anos e “crendo que estava tudo bem”, intuí que minha mãe estava indo embora, e novamente me dei conta da efemeridade da vida e de quantas coisas não havíamos falado , apesar da convivência diária.Comecei a pensar quais seriam seus sonhos de menina , se achava que os tinha realizado , queria saber de suas angústias de menina , adolescente, mulher.Inventei de pensar se haveria algo que ainda gostaria de realizar, se queria rir à toa , jogar conversa fora...Como n’uma tentativa de recuperar esse tempo não vivido , desconcertada pois, a rotina , a moral , as hierarquias criam em nós barreiras , pus- me a perguntar a minha mãe sobre seus sonhos de menina...mas ela já estava em outro estágio de vida e de dor...triste , sem vibração , não se interessou por tal conversa.Notava –se uma enorme tristeza , mas com tudo isso , ela juntou toda a sua generosidade e pôs –se a agradecer uma por uma as pessoas que lhe acompanhou nesta jornada.GRATIDÃO.Um choro de saudade antecipada, de partir; ao mesmo tempo , a certeza da missão cumprida.Nenhum lamento.Momentos de tristeza e de grande beleza ;como uma Pietá de Michelangelo.Indescritível!!Coube –nos retribuir a altura a dignidade da rainha.
O jogo continua , as peças hoje , ocupam outras funções, a cada dia revendo suas posições.
O desafio é manter o equilíbrio emocional , viver o presente intensamente, com a ciência(consciência) de que a qualquer hora o jogo pode mudar , a roda irá girar!!!

Ivone

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